segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A saga dos Sertões.

Tempos de incertezas, aqueles de 1976, em que a chuva era mãe da vida, mas, ela teimava em ser ausente na desafortunada terra de meus pais.

Em uma típica manhã do sertão, onde o marmeleiro seco e inerte parecia lamentar sua predestinação, a vida seguia no vale tórrido e rachado do meu afligido Jucás. As poucas sementes que teimavam em germinar pareciam se esforçar para empurrar a terra árida, na tentativa de expor as primeiras e frágeis folhas. Passava minhas férias entre a esperança e os lamentos de meus tios que tinham uma a vida de sacrifício, distante, bem próximo ao infortúnio.

Os dias se passavam a chuva não viera e eram remotas as chances de salvação para as lavouras. A cada despertar dos pássaros a angústia invadia o sertão e meu tio, percorria o vale com seu olhar sem esperança á procura da chuva que tarda. A escassez das águas estava decretando lentamente o fim da lavoura, a espera parecia eterna, sem a promessa do tempo que expusera o céu a cor de anil com nuvens brancas.

No curral eu visitava o touro “trovão” e a vaca “mocha” que eram salvos por folhagens do “Moquém” uma árvore resistente a seca.Tio Elizeu, tirava o chapéu, parecendo se entregar, enquanto balbuciava com minha tia Cleonice. -“O arrois morreu, o mio e fejão está perto”. A noite já tinha chegado, seu corpo procurava o descanso como recompensa do dia exaustivo.

Começava mais um dia de apreensão, o sol invadia intensamente e castigava as carnaubeiras que, imaculadas, resistiam ao terror árido. Na estrada, á frente da casa, não era difícil ver retirantes com destino à São Paulo, buscando arrimo para os seus. O cenário era de extrema dificuldade, a chuva conduzia o destino de todos, proporcionando a vida ou levando a morte.

No meio da tarde, o céu começou mudar, vinha do norte uma nuvem estranha àquele cenário, permaneceu e formou um quadro propício a chuva. Um derrame pequeno, mas, significativo tentava banhar o sertão. Com a terra molhada as plantações ganharam mais um tempo e a morte deu uma trégua. Na manhã de domingo um “Capão” agonizava no terreiro, era minha tia que preparava o almoço, as tensões tinham cessado um instante. Meu tio já planejava uma re-planta para o dia seguinte, esperava ele, mais colaboração da natureza.

A pouca chuva que caíra dava para molhar a bico dos pássaros, mas, não enchera o Jaguaribe e nem, ao menos, os riachos da região. A trégua esta chegando ao fim, o sol voltou e o sertão continuou desprotegido. A tristeza chegava ao vale com o martírio do plantio, que se foi.

O lamento de meu tio era o de todo o nordeste, que estava vencido pela natureza, sem amparo, nem a cumplicidade dos poderosos. Ele se tornara um retirante.

Sérgio Cunha
Cronista